Orfismo

Por Luana Castro Alves Perez

Fundado por um grupo de artistas plásticos e escritores, entre eles Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, o Orfismo representa a primeira fase do modernismo em Portugal.

Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros estão entre os fundadores do Orfismo, primeira fase do modernismo em Portugal
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros estão entre os fundadores do Orfismo, primeira fase do modernismo em Portugal

O Orfismo corresponde à primeira fase do modernismo em Portugal. Recebeu esse nome por causa da revista Orpheu, publicação fundada por um grupo de artistas plásticos e escritores, entre eles Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Raul Leal, Luís de Montalvor e o brasileiro Ronald de Carvalho, responsável pela publicação no Brasil. A revista Orpheu foi uma espécie de porta-voz dos precursores do modernismo, extremamente influenciados pelas modernas correntes europeias, entre elas o futurismo e o cubismo.

O Orfismo teve início em 1915, época em que a Europa estava mergulhada nos conflitos da Primeira Guerra Mundial, iniciada um ano antes, em 1914. Sob esse clima de forte tensão, os intelectuais ligados à revista Orpheu tinham como objetivo encontrar novas formas de expressão literária, formas que deixassem para trás o acanhado meio cultural português. No resto da Europa, correntes estéticas como o Futurismo e o Cubismo ganhavam força e, influenciados pelos valores dessas vanguardas, os orfistas lançavam um olhar para o mundo e suas inovações tecnológicas, rompendo definitivamente com o passado e sua feição simbolista.

A primeira publicação da revista trimestral aconteceu em janeiro de 1915. A segunda — e última —, em abril desse mesmo ano
A primeira publicação da revista trimestral aconteceu em janeiro de 1915. A segunda — e última —, em abril desse mesmo ano

“O que é propriamente revista em sua essência de vida e cotidiano, deixa-o de ser ORPHEU, para melhor se engalanar do seu título e propôr-se.

E propondo-se, vincula o direito de em primeiro lugar se desassemelhar de outros meios, maneiras de formas de realizar arte, tendo por notável nosso volume de Beleza não ser incaracterístico ou fragmentado, como literárias que são essas duas formas de fazer revista ou jornal.

Puras e raras suas intenções como seu destino de Beleza é o do:—Exílio!

Bem propriamente, ORPHEU, é um exílio de temperamentos de arte que a querem como a um segredo ou tormento…

Nossa pretenção é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em ORPHEU o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermo-nos.

A fotografia de geração, raça ou meio, com o seu mundo imediato de exibição a que frequentemente se chama literatura e é sumo do que para aí se intitula revista, com a variedade a inferiorizar pela igualdade de assuntos (artigo, seção ou momentos) qualquer tentativa de arte —deixa de existir no texto preocupado de ORPHEU.

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Isto explica nossa ansiedade e nossa essência! (...)”.

(Introdução de Luís de Montalvor para o primeiro número da revista Orpheu)

Mergulhada em uma crise cultural e social que culminou na eclosão da Primeira Guerra Mundial, a Europa vivia um período em que se reinventar era preciso: tal espírito de mudança atingiu também as artes, e na literatura os orfistas propunham uma mudança radical nos padrões estéticos. A poesia ganhou novos contornos, abandonou o passado de caráter histórico e assumiu o risco de chocar e provocar a burguesia, acostumada à estagnação da cultura portuguesa. Nessa nova poesia, o homem e seu espanto de existir eram a principal temática, e já não havia qualquer tipo de compromisso com o passado: o futuro, e apenas ele, interessava.

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica  
Tenho febre e escrevo.  
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,  
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!  
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!  
Em fúria fora e dentro de mim,  
Por todos os meus nervos dissecados fora,  
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!  
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,  
De vos ouvir demasiadamente de perto,  
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso  
De expressão de todas as minhas sensações,  
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!(...)”

(Excerto do poema “Ode Triunfal”, do heterônimo Álvaro de Campos, Fernando Pessoa. Publicado na revista Orpheu de número 1.)

A revista Orpheu não passou da segunda edição, sobretudo por problemas de financiamento: o mecenas da publicação, que também era pai de Mário de Sá-Carneiro, um dos fundadores do Orfismo, desistiu do mecenato, o que levou a revista à falência. Embora tenha contado com apenas dois números, Orpheu marcou a história da literatura portuguesa do século XX e foi considerada o marco inicial do Modernismo em Portugal. O Orfismo teve relevância até 1927, quando teve início a segunda geração modernista, o Presencismo.

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