Definição de palavra em Linguística

Por Mariana Rigonatto

A definição de palavra não é tarefa simples. É por isso que a Linguística ocupa-se de estabelecer critérios – entre eles, o sintático – para conceituar essa unidade da língua.

A palavra é a unidade mínima com significado que pode ocorrer livremente
A palavra é a unidade mínima com significado que pode ocorrer livremente

A existência das palavras é uma realidade inegável, não é mesmo? Entretanto, a definição desse termo não é tão simples quanto a constatação do seu existir.

Como ciência, a Linguística utiliza-se da análise de critérios que contribuem para uma definição satisfatória das unidades básicas de seu campo de estudo. Assim, são usados os seguintes critérios: semântico, fonológico e sintático. Vamos analisar detalhadamente a seguir quais desses critérios contribuem ou não para a constituição do conceito de palavra.

⇒ Critério semântico

É importante retomar aqui o conceito de Semântica. De forma simplista, podemos dizer que a Semântica é a área da Linguística que tenta descrever o “significado” das palavras e das sentenças. E por que dizemos que é de forma simplista? Porque não é fácil estabelecer a definição de “significado”. Isso, porém, é assunto para um próximo texto. Voltando ao nosso foco e de posse do conceito de Semântica, cabe-nos refletir se a análise do significado de uma unidade básica é suficiente para a definição de palavra. De acordo com Sandalo (2011, p. 182), esse critério é insuficiente, uma vez que existem línguas nas quais as palavras possuem apenas um significado (línguas isolantes) e, no entanto, há outras em que uma sequência de sons pode significar frases inteiras quando traduzidas para o português (línguas polissintéticas). Até mesmo em nossa língua, é possível observar que, muitas vezes, uma palavra ou sentença ganha novos e diferentes significados dependendo dos fatores de produção que permeiam o processo comunicativo. Assim, esse critério não é suficiente para a definição do elemento da língua que estamos estudando. Como exemplo, veja:

Como saber se construtor e aquele que constrói são palavras em português? Ambos têm o mesmo significado. Assim, se nosso critério for significado, deveríamos dizer que ambas as sequências pertencem à mesma classe gramatical. No entanto, nosso conhecimento de falantes de português nos sugere que a primeira é uma palavra, mas a sequência é uma frase. (SANDALO, 2011, p. 182)

⇒ Critério fonológico

Como fizemos no critério anterior, vamos lembrar, primeiramente, da definição de um ramo da Linguística. A Fonologia trata-se da ciência que se ocupa dos sons da língua, ou seja, do estudo dos fonemas como unidades discretas, distintivas e funcionais. A utilização desse critério para estabelecer o conceito de palavra foi uma tentativa frustrada para muitos linguistas, que tentaram definir um padrão fonológico capaz de determinar, em qualquer língua, qual sequência de sons poderia ser categorizada como uma palavra. Parece-nos estranha essa tentativa, não é mesmo? A diversidade de sons que podem ser emitidos por diferentes pronúncias de uma palavra e, portanto, a diversidade de significados que ela pode assumir pelas escolhas feitas pelos falantes não pode ser padronizada por uma avaliação tão restrita quanto a proposta por esse critério.

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Sandalo (2011, p. 182) explica:

Algumas pessoas já tentaram definir palavra pelo acento. Segundo este critério, uma palavra deveria contar com um acento principal (i.e. de maior intensidade) e alguns acentos secundários. No entanto [detèrgénte] e [dètergénte], ambos com um acento principal e um secundário, correspondem a uma frase e uma palavra respectivamente. Essa ambiguidade é explorada pela seguinte piada:

(1) O que é detergente?
É o ato de prender pessoas.

Assim, concluímos que o critério fonológico também não contribui muito para a definição de palavra.

⇒ Critério sintático

Recordando que a Sintaxe é a parte da Gramática que estuda o modo como as palavras são combinadas na composição das sentenças, podemos analisar como esse critério pode auxiliar-nos na construção da definição de palavra. Para tanto, dois requisitos são essenciais e precisam ser atendidos simultaneamente ao analisar e julgar se uma sequência de sons é uma palavra. São eles:

1) quando puder ser usada como resposta mínima a uma pergunta; e se
2) puder ser usada em várias posições sintáticas.

Observe a explicação de Sandalo (2011, p. 182 e 183) a respeito desses requisitos:

Em (2), nabos ocorre como a menor resposta possível à questão dada. Em (3), a palavra nabos ocorre como objeto da sentença e em (4) ocorre como sujeito. Isto é, esta sequência de sons pode ocorrer em mais de uma posição sintática. É, portanto, uma palavra.

(2) O que Maria comprou na feira hoje?
Nabos.
(3) Maria comprou nabos na feira hoje.
(4) Nabos foi o que Maria comprou na feira hoje.

Assim, embora algumas sequências de sons sejam definidas pela gramática tradicional como palavras (como os pronomes pessoais oblíquos átonos, conjunções, preposições, etc.), elas não recebem a mesma classificação linguística porque não podem ocorrer isoladamente em uma frase e, ao mesmo tempo, ocupar diferentes funções sintáticas em outras frases. Dessa forma, observamos que a palavra deve atender aos requisitos 1 e 2, não um ou outro.

Dessa forma, ao depararmo-nos com línguas polissintéticas, podemos conceituar uma sequência de sons como sendo uma palavra se ela atender a esses dois requisitos sintáticos.

Finalmente, concluímos que a Linguística define palavra como uma unidade que pode ser usada como resposta mínima e ocupar várias posições sintáticas em uma frase.

 

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