Metáfora

Por Guilherme Viana

A metáfora é uma figura de linguagem usada para comparar, de forma implícita, dois conceitos com base em suas características em comum, trazendo expressividade ao discurso.

Rosa murcha e coração quebrado, exemplos de metáforas.
Na poesia, a rosa murcha e o coração partido, por exemplo, são metáforas de desilusões amorosas.

Metáfora é uma das figuras de linguagem mais comuns na língua portuguesa, sendo usada para comparar dois conceitos de forma indireta, mais subjetiva e expressiva.

Leia também: Metonímia — figura de linguagem caracterizada pela substituição de um termo pelo outro

Resumo sobre metáfora

  • A metáfora é uma figura de linguagem (mais especificamente uma figura de palavras) muito usada em diversos contextos.

  • Nela, dois conceitos são associados com base em características em comum e de forma implícita.

  • A metáfora traz bastante expressividade, podendo ser usada em diversos contextos, como na literatura, na música, na publicidade, na retórica etc.

  • Difere-se da comparação, outra figura de linguagem que também compara e associa dois conceitos, mas de maneira explícita.

O que é metáfora?

A metáfora é uma figura de linguagem que consiste em estabelecer uma relação de semelhança entre dois termos ou conceitos diferentes, atribuindo características de um ao outro. Em outras palavras, é uma forma de expressão na qual uma palavra ou frase é usada para representar algo de maneira simbólica, sugerindo uma comparação indireta. Dessa forma, é considerada mais especificamente uma figura de palavras, já que brinca com o sentido das palavras.

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Exemplo de metáfora

Veja o enunciado a seguir:

Ela me tem na palma da mão dela.

A expressão “ter alguém na palma da mão” não pode ser entendida literalmente, pois não é possível ter uma pessoa na palma da própria mão, logo, a metáfora ocorre na linguagem conotativa, ou seja, com sentido figurado, que não é literal.

“Ter alguém na palma da mão” ou “estar na palma da mão de alguém” é uma metáfora para aproximar a ideia de controle que temos de algo quando está na palma da nossa mão. A ideia desse controle é a mesma que a pessoa do enunciado, por algum motivo, tem sobre a outra que afirmou estar na palma da mão dela.

Veja também: Sentido denotativo e sentido conotativo — qual a diferença?

Como usar metáforas?

A metáfora é frequentemente usada para transmitir ideias de forma mais vívida, expressiva e imaginativa, permitindo aos leitores ou ouvintes compreenderem conceitos complexos por meio de associações mais simples. Assim, é utilizada de diversas maneiras em diferentes contextos, tanto na linguagem cotidiana quanto em formas mais elaboradas de expressão, como na literatura, na música, na publicidade e na retórica.

Veja alguns exemplos:

  • Metáforas na literatura

Por permitir uma expressão bastante subjetiva, a metáfora é muito usada na literatura, tanto na prosa quanto na poesia, trazendo construções mais expressivas.

Leia este trecho do poema “Família”, de Cecília Meireles:

“Temos uma família muito distante,

em aposentos que não vemos, em países que jamais iremos visitar!

Dessa temos notícias, eventualmente:

mas o nosso amor é uma rosa que murcha incomunicável.”

Na frase “mas o nosso amor é uma rosa que murcha incomunicável”, o uso da metáfora se dá na afirmação de que o amor de uma família muito distante é uma rosa que murcha incomunicável, aproximando a ideia e a imagem dessa rosa murcha à de um amor distante.

  • Metáforas na música

Assim como na literatura, a música usa muito a metáfora para criar letras mais poéticas e expressivas. Veja estes versos da canção Martelo Bigorna, de Lenine:

“Eu posso até ir ao fundo

De um poço de dor profundo

Mas volto depois sorrindo”

Neles, o eu lírico usa da metáfora “ir ao fundo do poço”. Essa construção não é entendida literalmente, e sim como um símbolo de dor intensa, sentida de forma tão profunda quanto a ideia de um poço.

  • Metáforas na publicidade

A linguagem publicitária também se beneficia muito do uso de metáforas, que podem ser uma forma criativa, apelativa e persuasiva de divulgar a marca. Há alguns anos, uma marca de refrigerantes usava o slogan “Abra a felicidade” para divulgar o seu produto. Não é possível “abrir” a felicidade, uma emoção abstrata. Contudo, a ideia nessa mensagem era aproximar o refrigerante em questão do sentimento de felicidade.

Homem feliz segurando refrigerante em texto sobre metáfora.
A metáfora no slogan “Abra a felicidade” associava o refrigerante à ideia de felicidade.[1]
  • Metáforas na retórica

A metáfora também pode ser muito bem aproveitada como um recurso retórico, em busca de uma argumentação mais convincente, apelando às emoções para persuadir o público. Em muitos discursos políticos, religiosos ou de autoajuda, a metáfora pode ser empregada para se conectar com o público.

A língua é a espada da justiça.

Essa metáfora compara a língua à espada, sugerindo que a justiça é alcançada por meio da comunicação e do discurso persuasivo, em vez de meios violentos.

Qual a diferença entre metáfora e comparação?

Embora a metáfora e a comparação sejam figuras de linguagem que envolvem a associação de termos ou conceitos diferentes, elas operam de maneiras distintas. A metáfora é uma associação feita de forma implícita entre dois termos ou duas ideias.

na comparação essa associação ocorre de forma explícita, com o uso de conectivos como “tal qual”, “feito”, “como”, “tanto quanto” etc.

Veja:

  • Metáfora: Meu irmão é uma raposa astuta.

  • Comparação: Meu irmão é como uma raposa astuta.

Saiba mais: Eufemismo — recurso utilizado para atenuar o sentido de um enunciado

Exercícios resolvidos sobre metáfora

Questão 1

(UFU-MG 2018)

Texto para a questão.

Os urubus e os sabiás

Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão de mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.

— Onde estão os documentos dos seus concursos?

E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam, simplesmente...

— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

MORAL — Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.

(Rubem Alves. Estórias de quem gosta de escrever. Cortez Editora: São Paulo, 1984: 61-62)

Baseando-se na fábula Os urubus e os sabiás, assinale a alternativa que simboliza a metáfora do texto.

A) A irreverência do homem, como a dos urubus, que acreditam ter mais qualidades que os demais animais.

B) A irracionalidade humana na avaliação de determinados direitos sociais à semelhança dos urubus, que investidos de poder, decidem “quem pode ou não cantar na floresta”.

C) A sensatez humana na institucionalização de direitos, assim como os urubus instituíram, somente deve ter autorização para exercer uma atividade quem possuir diploma.

D) A coerência do ser humano, tal como a dos urubus, por acreditar que pode privar os demais seres do uso de suas habilidades, impondo leis.

Resposta

Alternativa B. O texto usa a figura dos urubus exigindo alvarás para o canto dos outros pássaros como metáfora e crítica à burocracia humana.

Questão 2

(FGV 2018 – Adaptada)

Todas as frases abaixo mostram uma comparação metafórica; a frase em que essa metáfora tem explicação é:

A) O falso amigo é como a sombra que nos segue enquanto dura o sol.

B) O amor é um grande mestre.

C) O amor é sarampo: quanto mais tarde chega na vida, mais perigoso é.

D) Os amantes, como as abelhas, vivem no mel.

E) O ódio sem desejo de vingança é um grão caído sobre o granito.

Resposta: Alternativa C

A questão pedia uma metáfora que apresentasse explicação logo em seguida. Apenas na alternativa C há uma metáfora (comparando o amor ao sarampo) seguida de explicação (após os dois-pontos).

Créditos da imagem

[1]15Studio/ Shutterstock

Fontes

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

FIORIN, José Luiz. Figuras de retórica. São Paulo: Contexto, 2019.

GURGEL, Diogo de França. Da metáfora em sua face retórica. Revista de Filosofia, v. 15, n. 1, p. 362-375, 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/5766/576664563021/html/.

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