Regência verbal

Por Warley Souza

Regência verbal é um mecanismo linguístico que permite a relação entre o verbo e seu complemento. O verbo pode exigir ou não uma preposição para se ligar ao termo regido.

Imagem explicando que é regência verbal.
No processo de regência verbal, os verbos são os regentes.

Regência verbal é a parte da gramática que estuda a relação entre o verbo e seu complemento. Assim, o verbo é o termo regente, que pode ou não exigir preposição para se ligar ao seu complemento, ou seja, o termo regido.

Leia também: Concordância verbal — a adaptação do verbo ao número e à pessoa do sujeito

Resumo sobre regência verbal

  • A regência verbal é a parte da gramática que estuda a relação entre o verbo e seu complemento.

  • Nesse processo, o verbo é regente, enquanto o complemento é o termo regido.

  • Alguns verbos podem ter mais de uma regência, como “assistir”, que pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.

  • Outro tipo de regência é a nominal, referente ao processo de ligação entre o nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seu complemento.

Videoaula sobre regência verbal

O que é regência verbal?

A regência verbal é um mecanismo linguístico que permite a ligação entre um verbo e seu complemento. Nessa relação, o verbo é o regente; já o complemento é o regido. Portanto, a regência verbal é a parte da gramática que estuda a relação entre o verbo e seu complemento.

Como ocorre a regência verbal?

Em um período, o termo regente (no caso, o verbo) exige um complemento para fazer sentido.

Regras de regência verbal

Tipo de verbo

Regra

Exemplo

Transitivo direto

O verbo não exige preposição.

Vi o famoso intelectual.

Transitivo indireto

O verbo exige preposição.

Gerson obedecia às regras.

Transitivo direto e indireto

O verbo possui dois complementos, sendo um sem preposição e outro com preposição.

Paguei o aluguel ao dono do imóvel.

Intransitivo

O adjunto adverbial, ligado ao verbo por preposição, completa o sentido desse verbo.

Adolfo chegou ao seminário.

Observação: “ao seminário” é adjunto adverbial de lugar.

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Exemplos de regência verbal

  • Aborrecer-se com

  • Abster-se de

  • Abusar de

  • Acabar com

  • Acomodar-se a

  • Acreditar em

  • Aderir a

  • Alimentar com, de

  • Aludir a

  • Apaixonar-se de, por

  • Bastar a

  • Bater a, em

  • Blasfemar contra

  • Brigar com

  • Cair em, sobre

  • Casar-se com

  • Chorar por

  • Combinar com

  • Comparar a, com

  • Concordar com, em

  • Consentir em

  • Consistir em

  • Contribuir com, para

  • Decidir sobre

  • Deparar com

  • Depender de

  • Desconfiar de

  • Desculpar-se com, de

  • Desistir de

  • Desobedecer a

  • Distinguir de

  • Distrair-se com

  • Duvidar de

  • Embriagar-se com, de

  • Empenhar-se com, em, por

  • Encher de

  • Encontrar-se com

  • Espantar-se com, de

  • Falar a, com, de, em, sobre

  • Formar-se em

  • Gabar-se de

  • Gostar de

  • Habituar-se a

  • Herdar de

  • Hesitar em, sobre

  • Implicar com

  • Incluir em

  • Incorrer em

  • Insistir em, sobre

  • Intervir em

  • Intrometer-se em

  • Juntar a, com

  • Lamentar-se de

  • Libertar de

  • Lidar com

  • Lutar com, contra

  • Mergulhar em

  • Nutrir-se com, de

  • Obedecer a

  • Optar entre, por

  • Padecer de

  • Pensar em

  • Persistir em

  • Pospor a

  • Precisar de

  • Proceder a, com

  • Protestar contra

  • Queixar-se a, de

  • Reconciliar-se com

  • Recorrer a

  • Referir-se a

  • Refletir em, sobre

  • Renunciar a

  • Residir em

  • Rogar por

  • Separar de

  • Sobreviver a

  • Sonhar com

  • Suspeitar de

  • Tachar de

  • Teimar em

  • Temer de, por

  • Transformar em

  • Trocar de, por

  • Unir a, com

  • Valer-se de

  • Vestir-se com, de

  • Voltar a, de

  • Zelar por

Quais são os verbos com mais de uma regência?

Existem muitos verbos que possuem mais de uma regência. No quadro abaixo, selecionamos alguns deles como exemplos.

Regência verbal

Sentido

Exemplo

Agradar

Fazer carinho

Janice agradou os sobrinhos e partiu.

Agradar a

Ser agradável

Janice não se preocupa em agradar a ninguém.

Almejar

Almejar por

Desejar

Gerson almejou o emprego.

 

Gerson almejou pelo emprego.

Ansiar

Ansiar por

Desejar muito

Paula ansiava ver sua amiga.

 

Paula ansiava por ver sua amiga.

Anteceder

Anteceder a

Vir antes

A sua decisão antecedeu acontecimentos terríveis.

 

A sua decisão antecedeu a acontecimentos terríveis.

Aspirar

Sorver

Rute aspirava o cheiro delicado das flores.

Aspirar a

Desejar

Rute aspirava ao posto de diretora.

Assistir

Auxiliar

A enfermeira Dirce assistiu o paciente.

Assistir em

Morar

A enfermeira Dirce assiste no bairro São José.

Assistir a

Presenciar, ver

 

Caber, pertencer

A enfermeira Dirce estava assistindo ao futebol quando tudo aconteceu.

 

Folgas semanais assistem à enfermeira Dirce.

Atender

Atender a

Deferir, responder

Nós atendemos o pedido dos moradores do bairro.

 

Nós atendemos ao pedido dos moradores do bairro.

Cumprir

Cumprir com

Realizar, exercer

Neide cumpriu sua missão.

 

Neide cumpriu com sua missão.

Desfrutar

Desfrutar de

Gozar

Agora podemos desfrutar o tempo livre.

 

Agora podemos desfrutar do tempo livre.

Esquecer

Esquecer-se de

Não lembrar

A Argentina não esqueceu o passado.

 

A Argentina não se esqueceu do passado.

Lembrar

Lembrar-se de

Recordar

Lembro o dia em que te conheci.

 

Lembro-me do dia em que te conheci.

Necessitar

Necessitar de

Precisar

Disse que necessita alguns dias de folga.

 

Disse que necessita de alguns dias de folga.

Preceder

Preceder a

Vir antes

A sua decisão precedeu acontecimentos terríveis.

 

A sua decisão precedeu a acontecimentos terríveis.

Querer

Desejar

Quênia quer aquela casa.

Querer a

Amar

Quênia quer muito aos irmãos.

Visar

Mirar

 

Colocar visto

João visou o colega e acertou-lhe a bola de papel.

 

João visou o recibo.

Visar a

Ter como objetivo

João visava a uma vida mais confortável.

Diferença entre regência verbal e regência nominal

Enquanto a regência verbal se refere à ligação entre um verbo e seu complemento, a regência nominal está relacionada à ligação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seu complemento.

Regência verbal

Regência nominal

Nós assistimos ao jogo de futebol ontem.

Quem tem medo de fantasma?

Ela não esqueceu o que ele havia dito.

Ela é uma pessoa apta a atuar como relatora.

Ana quer um chocolate.

Semelhantemente àquele caso de fraude, a decisão do juiz foi correta.

Para saber mais detalhes sobre a diferença entre regência verbal e regência nominal, clique aqui.

Exercícios sobre regência verbal

Questão 1

(Unimontes - Adaptada) Leia o texto que se segue para responder à questão.

HERÓI. MORTO. NÓS.

LOURENÇO DIAFÉRIA

Não me venham com besteiras de dizer que herói não existe. Passei metade do dia imaginando uma palavra menos desgastada para definir o gesto desse sargento Sílvio, que pulou no poço das ariranhas, para salvar o garoto de catorze anos, que estava sendo dilacerado pelos bichos. O garoto está salvo. O sargento morreu e está sendo enterrado em sua terra.

Que nome devo dar a esse homem?

Escrevo com todas as letras: o sargento Silvio é um herói. Se não morreu na guerra, se não disparou nenhum tiro, se não foi enforcado, tanto melhor.

Podem me explicar que esse tipo de heroísmo é resultado de uma total inconsciência do perigo. Pois quero que se lixem as explicações. Para mim, o herói — como o santo — é aquele que vive sua vida até as últimas conseqüências.

O herói redime a humanidade à deriva. Esse sargento Silvio podia estar vivo da silva com seus quatro filhos e sua mulher. Acabaria capitão, major. Está morto.

Um belíssimo sargento morto. E todavia.

Todavia eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias.

O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na Praça Princesa Isabel — onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer — oxidou-se no coração do povo. O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar.

O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo. Um sargento que dê as mãos aos filhos e à mulher, e passeie incógnito e desfardado, sem divisas, entre seus irmãos.

No instante em que o sargento — apesar do grito de perigo e de alerta de sua mulher — salta no fosso das simpáticas e ferozes ariranhas para salvar da morte o garoto que não era seu, ele está ensinando a este país, de heróis estáticos e fundidos em metal, que todos somos responsáveis pelos espinhos que machucam o couro de todos.

Esse sargento não é do grupo do cambalacho.

Esse sargento não pensou se, para ser honesto para consigo mesmo, um cidadão deve ser civil ou militar. Duvido, e faço pouco, que esse pobre sargento morto fez revoluções de bar, na base do uísque e da farolagem, e duvido que em algum instante ele imaginou que apareceria na primeira página dos jornais.

É apenas um homem que — como disse quando pressentiu as suas últimas quarenta e oito horas, quando pressentiu o roteiro de sua última viagem — não podia permanecer insensível diante de uma criança sem defesa.

O povo prefere esses heróis: de carne e sangue.

Mas, como sempre, o herói é reconhecido depois, muito depois. Tarde demais.

É isso, sargento: nestes tempos cruéis e embotados, a gente não teve o instante de te reconhecer entre o povo. A gente não distinguiu teu rosto na multidão. Éramos irmãos, e só descobrimos isso agora, quando o sangue verte, e quanto te enterramos. O herói e o santo é o que derrama seu sangue. Esse é o preço que deles cobramos.

Podíamos ter estendido nossas mãos e te arrancado do fosso das ariranhas — como você tirou o menino de catorze anos — mas queríamos que alguém fizesse o gesto de solidariedade em nosso lugar.

Sempre é assim: o herói e o santo é o que estende as mãos.

E este é o nosso grande remorso: o de fazer as coisas urgentes e inadiáveis — tarde demais.

As Cem Melhores Crônicas Brasileiras

Na passagem “...prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias”, o verbo “preferir” tem a mesma regência que o verbo sublinhado em:

A) “Ao povo desgosta o herói de bronze...”

B) “Que nome devo dar a esse homem?”

C) “O povo está cansado de espadas e de cavalos.”

D) “A gente não distinguiu teu rosto na multidão.”

Resolução:

Alternativa B

Na oração “… prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias”, a expressão “esse sargento herói” é complemento direto do verbo “prefiro”, já “ao duque de Caxias” é o complemento indireto do verbo. Situação semelhante é observada em “Que nome devo dar a esse homem?”, pois a palavra “nome” é complemento direto do verbo “dar”, enquanto “a esse homem” é o complemento indireto do verbo.

Questão 2

(Unimontes - Adaptada) Leia as seguintes construções sintáticas, comparando-as, para responder à questão.

“Impossível não me lembrar de uma metáfora…”

“Impossível também não lembrar a famosa parábola…”

Marque a alternativa INCORRETA sobre o emprego do verbo “lembrar” em suas duas ocorrências acima.

A) Em cada ocorrência, sofre alteração de regência e de sentido.

B) Tem regência diferente em cada ocorrência, mas mantém seu sentido básico.

C) É pronominal transitivo indireto na primeira ocorrência, e transitivo direto na segunda.

D) Quando pronominal, vem obrigatoriamente regido pela preposição “de”, como na primeira ocorrência.

Resolução:

Alternativa A

O verbo “lembrar”, em cada ocorrência, sofre alteração de regência: na primeira frase, ele possui complemento indireto; e, na segunda, complemento direto. No entanto, o verbo não sofre alteração de sentido, já que, em ambas as ocorrências, ele significa “recordar”.

Fontes

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.

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