Uso de coletivos na informalidade da língua

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Os coletivos “inventados” se manifestam, sobretudo, na oralidade
Os coletivos “inventados” se manifestam, sobretudo, na oralidade

Desde os estudos mais tenros, tomamos consciência de que os substantivos coletivos, mesmo retratados no singular, designam uma pluralidade de seres da mesma espécie. Assim, nada mais natural que utilizar “multidão” para designar um grupo de pessoas, bem como “ramalhete” para se referir a um conjunto de flores, “penca” para citar uma porção de bananas, e por aí vai.

Pois bem, partindo desse princípio, o assunto que nos leva a esta presente discussão diz respeito ao uso dessa noção de coletividade em diversas situações de comunicação que norteiam nosso cotidiano. Daí a razão de dizer, a começar pelo título do artigo, que são retratados na informalidade, visto que ainda não se encontram registrados em nenhum dicionário. Contudo, fazem parte de nosso léxico, como bem nos revelam algumas circunstâncias ora demarcadas por:

Situação primeira:

“- Fulano, que ‘roupaiada’ é essa espalhada pelo quarto? Trate de arrumá-lo imediatamente”.

Segunda:

“- Não aguento mais essa ‘sapataiada’ embaixo da cama!”

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Sim, dá para ver que, se não falamos, ao menos já ouvimos discursos semelhantes a esses, não é verdade?

A respeito deles, Maria Helena Moura Neves, em um artigo referente à gramática (Gramática de Usos do Português), ressalta que tais empregos, como é o caso dos acima citados, bem como “papelaiada”, “livraiada” e “louçaiada”, definem-se como coletivos típicos da língua falada, proferidos sem a conscientização dos próprios falantes que, a despeito de revelarem uma espécie de “fúria” linguística, haja vista que expressam uma nítida indignação por parte deles (dos emissores), nem se dão conta de que a intenção, vista sob o prisma linguístico, é a de revelar uma porção de elementos – daí a noção de coletividade.

Por que fúria linguística? Mesmo que se trate de apenas uma dedução, ao menos é o que nos ocorre, pois mesmo gostando de livros, de sapatos, entre outros, o emissor profere “sapataiada” e “livraiada”, curiosamente expressos no feminino (“-aiada”), que representam uma porção de elementos, mas dispostos de forma desordenada, não acha?

São, portanto, coletivos considerados “invisíveis”, pois mesmo compartilhando do vocabulário dos interlocutores, são expressos aleatoriamente, não levando em conta sua verdadeira significação.

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